Quando nós sentimos pena de uma pessoa, na realidade, nós sentimo-nos superiores a ela. Isto é, é como se eu estivesse num piso superior olhando para um piso inferior. Nessa perspectiva eu, cheia de boa vontade, considero aquela pessoa inferior.
– É uma coitada, não sabe, não consegue, não alcança, não deu certo.
Mas todas essas imagens presumem que eu sei, eu consegui, eu alcancei e comigo deu certo.
É muito difícil termos pena de uma pessoa se acharmos que está em melhor situação que nós. Ou mesmo termos pena de uma pessoa que esteja numa situação igual à nossa.
É o ego que – para nos valorizar, para nos afirmar – rejeita o outro colocando-o numa posição inferior. Mas apesar de o rejeitar, sente pena, e com isso valoriza-nos mais ainda. A perceção geral é a de que somos boas pessoas quando sentimos pena.
E esta mecânica faz muito mal a todos. Faz mal a quem tem pena, porque ativa ainda mais o ego, diminuindo imensamente a frequência vibratória. Sempre que eu acho que sou melhor do que o outro não irei vibrar muito alto. E faz mal a pessoa porque ao sentir que é digno de pena, passa a acreditar que o único parâmetro é o exterior, e que toda a sua riqueza interior não tem o menor significado.
Quando eu tenho pena, toda a ajuda que eu der é uma ajuda material, de fora para dentro, porque eu só estou conseguindo olhar para a parte exterior da pessoa, para as condições em que ela está inserida. Há pessoas pobres e muito felizes. Mas se eu estiver com pena, se eu estiver olhando com o meu ego, só vou conseguir ver como ela é pobre, nem vou conseguir ver qual é a emoção que ela está sentindo. E mesmo que eu a ajude, vou sempre escolher por ela, fazer por ela, afirmando-me mais ainda e diminuindo o seu mundo interior mais um pouquinho. É uma ajuda em que eu ativo o meu ego diminuindo o do outro.
– A dor de uma outra Alma faz ressonância com a minha Alma.
Compaixão é quando eu consigo olhar para uma pessoa e entender que aquela Alma está enclausurada dentro de um corpo que não escolhe a Luz.
Mesmo que essa pessoa esteja em melhores condições econômicas e sociais do que eu, posso ver a tristeza daquela Alma. Basta ser muito ambiciosa, ter um grande ego e eu consigo logo sentir a dor da Alma que está ali dentro. Porque a Alma no fundo só quer amor.
E é a minha Alma que tem compaixão por aquela Alma.
E só nesse momento eu estou preparada para ajudar.
Quando eu tenho compaixão, posso ter à minha frente a pessoa com as melhores condições exteriores deste mundo e ainda assim ver uma Alma em sofrimento.
A partir daí, toda a ajuda que eu der vai ser uma ajuda válida, porque é uma ajuda interior. Eu vou sempre tentar que a pessoa entenda que não está escolhendo em função da sua energia, em função da sua Alma, que está fazendo escolhas que não têm a ver com o seu caminho original. E com isso a própria pessoa pode compreender e mudar as suas escolhas, e finalmente encontrar-se. E durante o processo, ainda vai sentir-se valorizada, pois foi ela que conseguiu. A verdadeira ajuda é aquela de quem tem compaixão, não de quem tem pena. A verdadeira ajuda é aquela em que eu exerço a minha Alma fazendo com que o outro descubra a dele.