O que é Resistência?
Uma vez uma aluna me disse:
– Já ouvi várias pessoas dizerem que sou muito resistente, mas eu não sei o que é. Nem sequer sei o que isso quer dizer.
Resistente é uma pessoa que coloca muita força nas coisas...
Pode ser nas suas ideias, pode ser nos seus objetivos, pode ser nas suas ações, pode ser nos seus relacionamentos, pode ser na sua sensação de que tem razão, seja no que for.
Uma pessoa que põe muita força em uma coisa é uma pessoa resistente.
Só que existem pessoas que insistem muito numa coisa porque sentem que é mesmo verdade, têm intuição de que é verdade e depois o tempo até prova ser verdade. Isso não se chama resistência. Chama-se convicção. Convicção é quando nós intuímos uma coisa, e vamos contra tudo e contra todos para mostrar a nossa verdade.
Ter resistência é quando a própria vida está dizendo que não dá certo. A própria vida, as circunstâncias, as pessoas, estão tentando mostrar-me que aquilo onde eu estou colocando tanta força não funciona. Tudo indica que não é por ali, a própria vida não flui por ali, mas essa obsessão inconsciente de fugir do medo é tão intensa, que a pessoa insiste.
Normalmente a pessoa coloca a sua maior força, ativa a sua obsessão, no oposto do seu medo. No oposto do que doeu em outra vida. Se a pessoa tem medo de uma coisa, o normal é insistir, colocar força no oposto, para não ter que encarar o medo.
Imagine que essa pessoa, numa Vida Passada, abusou da autoridade para com os outros, foi déspota, violenta e cruel. Na vida seguinte, teve que vivenciar a consequência dessa energia. Viveu e morreu sozinha, sem família, sem ninguém. Nesta vida, o pavor da solidão é tão grande, que está sempre rodeada de gente, sempre insistindo na presença dos outros. Coloca força nisso, nessa dependência. Vive a vida dos filhos, está sempre pronta para ajudar, a opinar. Não haveria nenhum problema se na hora em que a vida pede um pouco de recolhimento, ela aceitasse. Mas não. Até nessas horas ela está acompanhada, seja de quem for. Essa resistência vai fazer com que um dia as pessoas se cansem. E se afastem. E ela vai, fatalmente, ter que encarar o encontro com ela própria. Só que de uma forma mais violenta. Ou porque morre o marido, um animal de estimação fica muito doente, um filho vai viver em outro País.
Imagine aquele jogo da corda, em que as pessoas dos dois lados, cada uma puxando para o seu. Ganha quem tiver mais força e fizer a corda pender para a sua equipe. Quanto mais resistente uma pessoa é, mais ela puxa a corda. O que ela não sabe é que do outro lado da corda está a vida, está o Universo. E por mais que puxe, por mais força que tenha, ninguém ganha da vida, ninguém ganha do Universo. Por isso, mais cedo ou mais tarde essa pessoa vai se quebrar. Ela não é flexível, ela não consegue ver o outro lado da questão. O outro lado da corda. Ela só consegue ver o seu.
E por que esse comportamento? Porque como ela quer fugir da dor, ela só vê o lado que dói menos. Mesmo depois de todas as evidências, ela não cede.
A pessoa está intuindo uma verdade e está insistindo para conseguir prová-la, está andando por um caminho improvável para chegar a algum lugar que ela intui ser verdade? Ou é uma insistência absolutamente estéril e kármica, em que a pessoa só faz força, só faz força, porque sabe que se sair dali vai ter que encarar a dor?
Se for esse o caso, é natural que a vida, mais cedo ou mais tarde, vá fazer essa pessoa sair dali e encarar tudo o que tiver que encarar.
Como ouvi certa vez:
– “A violência é proporcional à resistência.”